quarta-feira, 30 de março de 2011

Carta sem remetente


Eu penso em você às vezes. Mas só às vezes, não precisa se preocupar. Penso no que poderíamos ter sido se tivéssemos deixado toda aquela aventura tomar conta de nós, se você não tivesse medo. Será que seríamos felizes?
Vou te contar uma história.
Outro dia eu estava com um cara, e ele é bem legal, sabe?! Em vários aspectos ele me lembra você. O modo com que ele encaixa uma mão entre meus cabelos e a oposta segura minha cintura. Quando, ah, lembra aquela vez que estávamos aqui no meu apartamento e dançávamos ao som de Laura Pausini? Pois é, a música voltou a tocar naquela noite e eu lembrei tanto de você…Que música era mesmo? La Solitudine, eu acho piangi e non lo sai quanto alto male ti farà la solitudine. Com certeza era essa música, você lembra? Passei o dia seguinte inteiro revirando nossos - ou meus - cadernos de fotos e memórias, seus recados de ”voltarei em breve” e nossas fotografias cheias de história.
Tem mais alguns aspectos em que esse cara, em especial, me lembra você. Recorda-se das minhas piadinhas de fim de noite, quando já estávamos todos acabados pelo vinho bebido e os pecados feitos, deitados naquele meu sofá bege que eu tanto amo? Então, ele olha para cima e ri, assim como você fazia comigo. O jeito de me jogar contra a parede para me beijar e entrelaçar nossos dedos enquanto conversamos sobre coisas comuns e corriqueiras… Ele me faz bem, sabe? Apesar de que você também me fez. Mas não se preocura, eu penso só um pouco em você. Após esses encontros e desencontros eu não sei se ainda lembro do seu rosto, lembro do cheiro, da voz, mas seu rosto é um vulto muito escuro em minha cabeça. E como é que você está agora? Porque eu andei pensando em nós, mas não se preocupa, já disse, foi pouco. É que vezenquando eu lembro que te amei e você foi embora. Ou não foi. Só sei que sinto sua falta, bem pouco, repito. E onde você está morando? Mês passado passei na frente da sua casa e fiquei receosa de bater…
Mas sabe, lembra o dia em que foi embora? Viu que eu te deixei uma carta no bolso do casaco? E por que não me procurou? A minha letra estava muito feia, eu sei, e me desculpe por isso, mas a partir daquele dia eu comecei a pensar que você não me amava, ou nunca me amou, amou? Amor é uma palavra muito forte, Gustavo vive me dizendo isso. Gustavo é o cara que me lembra você, bonito nome, não? Ele tem aparecido muito aqui em casa ultimamente, o que me faz bem, sabe? Nós dançamos junstos e nos beijamos e conversamos durante horas. Trocamos experiências, o que é muito legal. Geralmente ele me diz para sorrir com os olhos, não só com a boca. E confesso que só fui entender o sentido dessa frase depois da nossa primeira noite, minha e dele, quero dizer. Primeira em vários motivos, porque também foi a primeira noite em que eu não pensei em você. Depois dessa noite eu sinto como se houvesse algo vivo dentro de mim, e esse ”algo” você tinha deixado morto ao sair pela minha porta e nunca mais voltar. E eu gosto do Gustavo, de verdade, não só pelo fato de ele lembrar você ou por bebermos e dançarmos loucamente enquanto alguma música louca toca na rádio, mas ele me entende, sabe? Outro dia estávamos olhando atraves da minha janela, já era noite e a lua refletia a luz do sol com tamanha intensidade que era difícil não percebê-la no céu. Gustavo sussurrou no meu ouvido: ”Quando você estiver pronta, você vai esquecer, confia em mim” e eu confiei. E me deixei levar… Acho que não poderia estar mais feliz do que agora, entende? Ele não se importou com as minhas feridas e, sem perceber, resolveu curá-las.
Porque a nossa brincadeira virou amor, enquanto eu te amei e você foi embora.

@mavisimionatto