domingo, 4 de dezembro de 2011

Assim Como o Álcool

O cheiro de sexo estava impregnado em todas as paredes daquele meu pequeno apartamento, mas eu sentia como se nada houvesse acontecido na noite anterior, talvez porque não tivesse importância, talvez porque eu não queria me lembrar da noite passada, talvez porque teve importância demais e meu coração doía a cada faísca acesa pelo pensamento sobre o que acontecera, talvez porque eu estava bêbada e tudo o que eu queria dizer era me dá um beijo e tu assim o fez. Faísca. Sem pensamentos sobre o acontecido. A gente tem essa mania cretina de querer relembrar cada segundo, cada momento, cada beijo e palavra. PORRA! Como se pensar fosse mudar o acontecido, domo se pensar te trouxesse de volta, tu e o momento, eu digo. Se a gente não relembra dói menos, mas se a gente relembra nos quebra imensamente por dentro. E me quebrava mais ainda o fato de tu, estranho-não-tão-estranho-assim, tivesse ido embora sem mesmo dizer adeus - ou tchau, já que nem tu sabes se nos veremos novamente - Afinal, será que aconteceu alguma coisa ontem? Eu estava bêbada demais para lembrar de qualquer coisa.
Talvez eu só tenha ficado em casa assistindo a um filme com uma garrafa de tequila ao meu lado, e ligado para alguém. Ou eu mandei uma carta terrorista para o presidente e isso tudo é um sonho enquanto eu estou sendo torturada numa casa em alguma divisa do Acre. Impossível eu estar no Acre, muito menos sonhando entre uma palmada e outra. Mas eu só queria saber o que aconteceu ontem, só pra eu ter certeza que esse cheiro de sexo não é coisa da minha cabeça, que quando eu pedi me beija e assim tu o fizeste não tem nada a ver com o fato de eu sentir tanto a tua falta que eu, bêbada, te liguei no meio da noite e tu veio aqui só pra ver se estava tudo bem, mas não estava, porque eu sentia tanto a tua falta que me afundei em uma garrafa de tequila só numa tentativa de ver se o buraco no meu coração era preenchido, mas tequila é líquido e álcool, escorre e queima, o que me fazia sentir mais falta ainda dos teus dedos escorrendo pelas minhas costas, fazendo o trajeto queimar. E então eu pedi me beija e tu me beijaste e eu sabia que ia doer em casa milímetro do meu corpo mas eu não liguei, ninguém realmente liga. E minha cabeça me dizia pára, pára que isso não é certo mas meu corpo se movia com o seu num ritmo suave e tudo que eu conseguia pensar era que saudades de você e tudo que eu conseguia falar era que saudades de você.
Maria Victória Simionatto